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Troca-troca de semente
09 de Junho de 2011

Troca-troca de semente

Nos últimos anos, a valorização do fumo fez com que muitas famílias rurais abandonassem hábitos herdados de seus antepassados e se dedicassem à monocultura, o que suscitava certa preocupação entre autoridades e órgãos ligados à agricultura. Paulatinamente, hortas, pomares e animais responsáveis pelo fornecimento de ovos, leite e carne à família foram excluídos do cenário rural. Virou consenso entre a grande maioria dos agricultores que seria bem mais fácil ampliar as lavouras de fumo e, com o plus obtido a mais, fazer as compras nos supermercados da cidade. Afinal, levantar cedo para tirar leite, tratar as galinhas, carnear um porco ou pegar a enxada e capinar a horta demanda tempo e trabalho. Mas como para cada ação existe uma reação, a iminente crise por que passa a fumicultura desvela com maior intensidade esta nem tão velha preocupação: o que por à mesa se o dinheiro do fumo não for suficiente para pagar as contas? A resposta é: plantar comida.

Nesse contexto, uma ótima oportunidade para rever certos conceitos foi novamente proporcionada pela Emater e Prefeitura de Candelária. Trata-se da reedição de um importante seminário que tem como foco a sustentabilidade das propriedades e a segurança alimentar, que chegam como pano de fundo para mais um Encontro Municipal de Troca-Troca de Sementes Crioulas. O evento ocorreu na quarta-feira 08.06.11 em sua 11ª edição, no pavilhão da comunidade católica de Candelária.

Embora a chamada "Revolução Verde" tenha sido responsável pela perda de grande parte da diversidade e variabilidade das plantas cultivadas, existe ainda hoje um número considerável de propriedades rurais que mantêm um razoável estoque de sementes chamadas landraces (raças da terra) ou simplesmente chamadas de "crioulas". Com isso, o já conhecido troca-troca firma-se como grande incentivador da manutenção da história, ao mesmo tempo que tem na garantia da soberania alimentar e na sustentabilidade da propriedade seus principais objetivos. Segundo a extensionista da Emater de Candelária, Elaine Skolaude, o troca-troca congrega mais de 25 grupos de mulheres do município, que apresentarão a demais produtores, educadores, técnicos e à comunidade pelo menos 300 variedades de sementes crioulas. O evento conta com o apoio da comunidade católica de Candelária, gabinete da primeira-dama, Embrapa e Capa.


ATRAÇÕES - Neste ano, o troca-troca tem entre suas atrações a revelação de uma pesquisa desenvolvida pelo escritório local da Emater. O apanhado diz respeito a diversas espécies de raízes e bulbos que são cultivados no município, tais como mandioca, batata doce, batatinha, cebola, alho e amendoim. Segundo Elaine, são pelo menos 16 variedades de batata-doce, 10 de mandioca e cinco de batatinha, o que demonstra o grande potencial dessas espécies utilizadas não só para a alimentação, como para o trato dos animais. Durante a programação, que iniciou às 7h30, foram desenvolvidas palestras, além de um espaço para debates e perguntas. O troca-troca inclui almoço comunitário e, claro, a oferta de sementes, que poderão ser usufruídas pelos participantes, que desta forma transformam-se em agentes difusores, mantendo a história e fomentando a agricultura familiar. Quem sabe nas lições do passado e nos exemplos vivos desses guardiões das sementes crioulas resida a esperança que traga novamente a bonança e os belos cenários do interior. Afinal, pode-se dizer que o colorido das hortas e dos pomares bem cuidados refletem a pujança do homem e da mulher rural, expõem fartura, alimento de qualidade à mesa da família e a garantia de qualidade de vida a uma população.








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