O território de Candelária, entre outras peculiaridades, tem uma especial que lhe dá condição de referência mundial. Nenhum outro município possui a fauna tão diversificada de animais do período triássico, época em que surgiram os primeiros dinossauros e outras espécies que habitaram o planeta há mais de 200 milhões de anos. Por isso, já na década de 30 do século passado, há registros da passagem de pesquisadores estrangeiros no município, interessados em desenterrar fósseis de animais pré-históricos. Nos dias atuais, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) realiza frequentes expedições no território candelariense. Numa delas, encontrou em 2004, na localidade do Pinheiro, um conjunto de 57 fragmentos reproduzindo uma cena ocorrida há aproximadamente 230 milhões de anos. Após serem devidamente pesquisadas, as peças foram trazidas de volta ao município no último sábado, 26, e confiadas ao Museu Municipal Aristides Carlos Rodrigues.

Uma concorrida solenidade na Câmara Municipal marcou o retorno do bloco onde estão encravadas as peças de diferentes tamanhos de cinodontes, espécie de pré-mamíferos muito comum no período triássico. Acreditam os pesquisadores que os fósseis sejam restos de cinodontes trazidos por um predador - um cinodonte carnívoro - para alimentar os filhotes. Um dos fragmentos encontrados ainda pode revelar-se de grande relevância científica, segundo relatou à reportagem o curador do Museu Municipal, Carlos Nunes Rodrigues. Ocorre que um paleontólogo identificou no bloco uma mandíbula com dentes até hoje nunca vistos.

Ao abrir o evento no sábado, Carlos Rodrigues apresentou um rápido histórico sobre a atuação do Museu Municipal, materializado a partir das discussões do Núcleo Cultural Terra Nossa. Inúmeras lideranças da cidade prestigiaram o evento na Câmara. Entre os visitantes, destaque para a presença de Irma Yamamoto do Ministério das Minas e Energia. Concluída a explanação inicial do curador do museu, seguiu-se uma palestra do paleontólogo e professor da Ufrgs César Leandro Schultz. Sob o título "Os Vertebrados Triássicos em Candelária", Schultz explicou em detalhes, etapa por etapa, o trabalho dos pesquisadores na área da paleontologia, desde a atividade de campo, extração do material encontrado e sua minuciosa análise em laboratório. A respeito da natureza das pesquisas feitas no Rio Grande do Sul, disse já ter sido comprovado que os primeiros dinossauros surgiram no território gaúcho e na Argentina. "E mais recentemente se descobriu que a origem dos mamíferos também se deu no Rio Grande do Sul", emendou. Ao admitir que em outros municípios da região, como Agudo e Faxinal do Soturno também são encontrados fósseis do período triássico, Schultz enfatizou que a vantagem de Candelária é a variedade das descobertas. Conforme explicou, enquanto nos demais municípios os achados se restringem a uma determinada espécie, o território candelariense produz os diferentes exemplares de fósseis já identificados do período triássico. O material incorporado agora ao patrimônio do Museu Municipal de Candelária será uma das atrações da mostra paleontológica da Expocande 2009.